In one of his beautiful pages in 1 Cor 13:1-13, Paul writes the hymn to love, whose message is without love we are nothing. In Canticles we find “love is as strong as death” (Ct 8:6). In short, the author condenses the overwhelming force of love as that of death, that which reduces the human being to his physical finitude. This is the intensity of something so human and indispensable to life, the absence of which is capable of leaving profound sequels in a person’s existential journey. In the absurdity of the human mystery, even those who have never loved want to be deeply loved and this absence is capable of making someone assume the most inhuman attitudes. And he who rejects it is because he feels threatened in his own narcissism and insecurity. Those who do not love, do not allow themselves to be loved and do not share in life’s attitudes towards others experience loneliness and unhappiness in their days. Whoever loves lives and gives life to others! Hasn’t Jesus of Nazareth and so many men and women throughout history been like this, continuing to the present day? As long as there is love, humanity, with its lights and shadows, will advance. If it loses it, it will collapse.
In the darkest moments of humanity there are always people who, by their capacity to love, transform reality. This is visible in recent times when thousands of people, men, women, the elderly, children, the rich, the poor, find creative forms of solidarity to ease the pain of those who suffer. These noble attitudes transform the world, generate humanity and make us believe that there is hope for the world, a future in which human beings can recover their capacity to take care of their neighbor and the world in which they live. What can be said about so many fathers and mothers who give their lives to their children? Of simple people who give what little they have in favor of others? Of individuals who, in their work, give their lives for the transformation of their fellow man and the world? Of those who give their lives for others? Of strangers who do good without any interest? History is full of these examples, but they pass anonymously, because love and good do not appear in the statistics of the consumer society, well-being and profit, because it is pure gratuity and transcends social condition, culture, sexuality, religion, etc.
Love puts us in the skin of the other and awakens compassion, something present in the entrails, in the innards, in the depths of our soul, it permeates our body and makes us take risks. The one who loves leaves his security, his interests and puts himself on the way to meet the other, even unknown. It is this encounter that materializes in the form of recognition, acceptance, kindness, generosity, free care and salvation. Whoever loves saves and saves himself!
Paul concludes his hymn by affirming: “Now, therefore, faith, hope, love, these three things remain; but the greatest of them is love” (1 Cor 13:13). In its deepest sense, love entails an act of faith and hopeful patience, and this moves the heart and human attitudes toward one’s neighbor. Is this not what we lack in this era of history: recovering the dimension of faith as an anthropological and transcendental horizon and patience of hope, as a possibility of making sense of what we accomplish and can accomplish, as creative beings capable of loving? What is the learning of the concrete, meaningful and daily experiences of love for us as a person and as a society? Perhaps in this arc of history, we are experiencing self-abandonment of ourselves and the other without realizing that we are doing ourselves harm, neglecting ourselves. And only love is capable of redeeming us from this condition and redeeming what is most beautiful in the human: giving oneself to the other, caring for him or her. Without love we are nothing!
Rogério Gomes, C.Ss.R
Foto di Myriam Zilles da Pixabay
O amor que nos faz cuidar
Rogério Gomes, C.Ss.R
Em uma de suas belas páginas em 1Cor 13,1-13, Paulo escreve o hino ao amor, cuja mensagem é sem amor nada somos. Em Cânticos, encontramos “o amor é tão forte quanto a morte” (Ct 8,6). Em breves palavras, o autor condensa a força arrebatadora do amor como aquela da morte, a que reduz o ser humano à sua finitude física. Portanto, aí está a intensidade de algo tão humano e imprescindível à vida, cuja ausência é capaz de deixar sequelas profundas no percurso existencial de uma pessoa. Na absurdidade do mistério humano, mesmo quem nunca amou, deseja ser profundamente amado e essa falta é capaz de fazer alguém assumir as atitudes mais desumanas. E quem o rejeita é porque sente-se ameaçado em próprio narcisismo e insegurança. Quem não ama, não se deixa amar e não o compartilha em atitudes de vida em relação aos outros experimenta solidão e infelicidade em seus dias. Quem ama vive e dá vida aos demais! Não o foi assim com Jesus de Nazaré e tantos homens e mulheres ao longo da história, continuando até os dias hodiernos? Enquanto houver amor a humanidade, com suas luzes e sombras, avançará. Se perdê-lo, entrará em colapso.
Nos momentos mais obscuros da humanidade sempre surgem pessoas que, por sua capacidade de amar, transformam a realidade. Isso se faz visível nos últimos tempos, quando milhares de pessoas, homens, mulheres, idosos, crianças, ricos, pobres encontram formas criativas de solidariedade para aliviar a dor de quem sofre. Essas nobres atitudes transformam o mundo, geram humanidade e nos fazem acreditar que há uma esperança para o mundo, um futuro no qual o ser humano possa recuperar a sua capacidade de cuidar do seu próximo e do mundo onde vive. O que dizer de tantos pais e mães que dão a vida para os seus filhos? De pessoas simples que doam o pouco que tem em favor de outras? De indivíduos que, em seus trabalhos, entregam a vida para a transformação do semelhante e do mundo? De quem dá a própria vida pelo outro? De desconhecidos que fazem o bem sem nenhum interesse? A história está cheia desses exemplos, mas que passam anônimos, pois o amor e o bem não figuram nas estatísticas da sociedade de consumo, do bem-estar e do lucro, pois é pura gratuidade e transcende condição social, cultura, sexualidade, religião, etc.
O amor nos coloca na pele do outro e desperta a compaixão, algo presente nas entranhas, nas vísceras, nas profundezas de nossa alma, permeia nosso corpo e nos faz correr riscos. Quem ama deixa as suas seguranças, seus interesses e se coloca a caminho do encontro do outro, mesmo desconhecido. É esse encontro que se materializa em forma de reconhecimento, acolhida, bondade, generosidade, gratuidade cuidado e salvação. Quem ama salva e se salva!
Paulo conclui seu hino afirmando: “agora, portanto, permanecem fé, esperança, amor, essas três coisas; mas a maior delas é o amor” (1Cor 13,13). Em seu sentido profundo, o amor comporta um ato de fé e a paciência esperançosa, e isso faz mover o coração e atitudes humanas em relação ao semelhante. Será que não é isso que nos falta nesta era da História: recuperar a dimensão da fé como horizonte antropológico e transcendental e a paciência esperançosa, enquanto possibilidade de sentido do que realizamos e podemos realizar, enquanto seres criativos e capazes de amar? Qual o aprendizado das experiências concretas, significativas e cotidianas do amor para nós enquanto pessoa e sociedade? Talvez neste arco da História, estamos experimentando o autoabandono de si e do outro sem nos darmos conta que estamos fazendo mal a nós mesmos, descuidando-nos. E só o amor é capaz de nos resgatar dessa condição e resgatar o que há de mais belo no humano: doar-se ao outro, cuidar dele. Sem o amor nada somos!