Every event is a learning process. Even from catastrophes, it is possible to extract some lessons, especially in not making the same mistake, and if human interventions caused the calamity. Other realities are beyond our limits, such as natural phenomena and pandemics, which, in many cases, is not only the uncontrolled spread of a biological, viral agent, with the lethal capacity to affect the health of the population, but also due to the collaboration of the human agent. Even so, future learning is feasible to prepare the social extract so that it is not so sacrificed when such eventualities occur. That said, what knowledge can we internalize from this current moment in our history? Will we continue with the same lifestyle as before, or will it be an opportunity to rethink how the person and society are conducting our existence and history? Is it not time to be better?
Human history has always been marked by conflict and, in more extreme cases, conflicts such as the First and Second World Wars. Nowadays, countless conflicts around the world leave victims, especially among the most vulnerable. It is these realities that make millions of people seek better living conditions, leave their lands, and, in many cases, struggle physically for survival in tragic ways. There is tension arising, above all, from political, economic, and even religious choices that converge in a state of deep wear and tear in the social fabric. This facet of thanatos (death) causes much harm to human beings and, consequently, to humanity. This reality can be an indication that we forget the dimension of eros (love) that makes us confront the face of the other and recognize it as similar and, in this encounter, produce life in full meaning. There is the possibility of valuing the other, and establishing social bonds based on respect, the cultivation of citizenship and solidarity. In the absurdity of conflict and death, there will always appear persons who are pregnant with erosand philia (friendship) who will heal the wounds caused by selfishness and indifference. For these people, pain has a face, a body, dignity, and a desire for happiness. They are those blessed men and women who, in their silence, discretion and action, transform the lives of others. The time of the pandemic COVID-19 has highlighted this beautiful dimension of the human, that of caring of one’s fellow man.
But it is not only humanity that suffers because of human action. The planet as a whole, as a living reality, suffers the consequences of human actions: pollution of the air, land, and water, exploitation of resources in a predatory and uncontrolled way, lack of governmental, public and private policies to balance the relationship with the environment and its preservation. It would do us no harm to remember the biblical tradition of the Jubilee Year when the land was given a rest (Cf. Lev 25:19-22). Taking care of our common home is fundamental for our quality of life. How, then, can social, economic, technological, and scientific progress be reconciled? Is it feasible? It is possible using our knowledge to generate knowledge that considers the planet as a living organism and develops technologies and policies to reduce the environmental impact. To work for the planet is to create renewable sources of resources for a better quality of life. However, as long as we think only in the extractive, consumerist, selfish, and irresponsible model, we are destroying the house where we live and making it increasingly vulnerable to future pandemics. What daily actions can we undertake to take care of our home? Not throwing the garbage irresponsibly in a public environment is already a step…
The ethical and transcendental dimension permeates the cultivation of human relations, care for people and the environment. If the subject is not a follower of a religion or claims to be a non-believer, if he guides his life by fundamental values, he is contributing to a better world. In the case of the human being believer, the transcendental dimension can provide, if in a balanced way, an enormous contribution to humanity. In this sense, religion can make its contribution not only on a spiritual level but also on a social one. In what way? Religion collaborates with the redemption of meaning, eliminating the existential void that can destroy humanity; it offers an element for the cultivation of mysticism, by favoring the person to recognize himself as a creature who needs God, the other and nature and to overcome his selfish dimension and, at the same time, capable of goodness; it favors communion and dialogue with one’s fellow man; it nourishes and strengthens personal and community spirituality; it fosters hope and opens various channels for the practice of solidarity. This experience of quarantine has revealed so many religious and saving experiences around the world, rescuing the man-God contact, anchoring hope and charity. It is important to warn that religious experience, when dressed up in fundamentalism, denies itself and its relationship with the divine. It is the manipulation of the divine for one’s benefit. This fundamentalism is deprived of mysticism, spirituality, and loaded with narcissism, ritualism, and moralism and reads history from divine punishment and human guilt.
Finally, we cannot disregard the human capacity to produce knowledge. Why not use it for a world that is more equal, more humane, and promotes human dignity and life? All knowledge is ambivalent but based on the rigor of scientific activity, ethics, and anthropology that considers the human being in its totality, immanence, and transcendence, it can generate great wealth to human heritage, evolutionary and historical. In this sense, it is fundamental that societies invest in the sciences to promote the common good. The discourse hateful to the sciences is ignorant and reductionist. Scientificism can be arrogant and manipulative. Science must be at the service of the construction of humanity in every sense. And how can we, as ordinary citizens, make our contribution to this construction of knowledge? From critical thinking, starting from the fight against fake news, and seeking information from relevant institutions.
This crossroads at which COVID-19 has placed us will require us all to rethink our lifestyle and make meaningful choices for a better future…
Rogério Gomes, C.Ss.R.
The original text is in Portuguese (see below)
Foto di Shepherd Chabata da Pixabay
Repensar o futuro para vivermos melhor
Rogério Gomes, C.Ss.R.
Todo acontecimento nos deixa um aprendizado. Mesmo daqueles catastróficos é possível extrair alguma lição, especialmente para não incorrermos no mesmo erro, sobretudo, se tal catástrofe foi provocada por motivações humanas. Há outras realidades que estão para além de nossas forças, como por exemplo, os fenômenos naturais e as pandemias que, em muitos casos, não é só a propagação descontrolada de um agente biológico, viral, com capacidade letal para afetar a saúde da população, tendo também a colaboração do agente humano. Ainda assim, é factível um aprendizado futuro que possibilite preparar o extrato social para que não seja tão sacrificado, quando tais eventualidades ocorrem. Isto posto, qual o aprendizado que interiorizaremos deste momento atual da nossa história? Será que continuaremos com o mesmo estilo de vida de outrora ou será uma oportunidade para repensarmos o modo como pessoa e sociedade estamos conduzindo nossa existência e história? Não é hora de sermos melhores?
A história da humanidade sempre foi marcada pela conflitividade e, em casos mais drásticos, tais como a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Nos dias vigentes são inumeráveis os conflitos ao redor do mundo que deixam suas vítimas, especialmente aquelas mais vulneráveis. São essas realidades que fazem milhões de pessoas buscarem melhores condições de vida, deixarem suas terras e, em muitos casos, lutarem fisicamente pela sobrevivência de modo trágico. Existe uma tensão decorrente, sobretudo, de escolhas políticas, econômicas e até mesmo religiosas que confluem em um estado de profundo desgaste do tecido social. Essa faceta de thanatos (morte) causa tanto mal aos seres humanos e, consequentemente, à humanidade. Essa realidade pode ser um indicativo de que esquecemos a dimensão do eros (amor) que nos faz confrontar com o rosto do outro e reconhecê-lo como semelhante e, neste encontro, produzir vida em sentido pleno. Aí está a possibilidade de valorizar o outro e estabelecer vínculos sociais fundamentados no respeito, no cultivo da cidadania e da solidariedade. Na absurdidade do conflito e da morte sempre aparecerão pessoas grávidas de eros e philia (amizade) que curarão as feridas causadas pelo egoísmo e pela indiferença. Para essas pessoas a dor tem um rosto, um corpo, uma dignidade e um desejo felicidade. São aqueles homens e mulheres bem-aventurados que, no seu silêncio, discrição e ação, transformam a vida de outros. Os tempos de epidemia do COVID-19 tem evidenciado essa dimensão tão bela do humano, a de cuidar do seu semelhante.
Mas não é só a humanidade que sofre por causa da ação humana. O planeta como um todo, como realidade vida, sofre as consequências: poluição do ar, da terra, das águas, exploração dos recursos de forma predatória e descontrolada, falta de políticas governamentais, públicas e privadas para equilibrarem a relação com o meio-ambiente e a sua preservação. Não nos faria nenhum mal recordarmos a tradição bíblica do ano jubilar, quando se dava o descanso da terra (Cf. Lv 25,19-22). Cuidar de nossa casa comum é fundamental para nossa qualidade de vida. Então, como conciliar progresso social, econômico, avanço tecnológico e científico? É viável? É possível usando a próprio saber, gerando saberes que considerem o Planeta como um organismo vivo e desenvolvam tecnologias e políticas para reduzirem os impactos ambientais. Trabalhar em prol do Planeta é gerar fontes de recursos renováveis com melhor qualidade de vida. Todavia, enquanto pensarmos somente no modelo extrativista, consumista, egoísta e irresponsável, estamos destruindo a casa onde vivemos e, além disso, tornando-a cada vez mais vulnerável a futuras pandemias. Que ações cotidianas podemos empreender para cuidar de nossa casa? Não jogar o lixo irresponsavelmente em ambiente público já é um passo…
O cultivo das relações humanas, o cuidado com as pessoas e o ambiente são permeados pela dimensão ética e transcendental. Se o sujeito não é adepto de uma religião ou afirma ser não crente, se ele pauta sua vida por valores fundamentais, está contribuindo para um mundo melhor. No caso do ser humano crente, a dimensão transcendental pode prestar, se de modo equilibrado, enorme aporte para a humanidade. Nesse sentido, a religião pode dar sua contribuição não só em nível espiritual, mas também social. De que modo? Colabora com o resgate do sentido, eliminando o vazio existencial que pode corroer a humanidade; oferece elemento para o cultivo da mística, ao favorecer a pessoa reconhecer-se como criatura que necessita de Deus, do outro e da natureza e superar sua dimensão egoística e, ao mesmo instante, capaz de bondade; favorece a comunhão e o diálogo com o semelhante; alimenta e fortalece a espiritualidade pessoal e comunitária; fomenta a esperança e abre diversos canais para a prática da solidariedade. Essa experiência de quarentena desvelou tantas experiências religiosas e salvíficas ao redor do mundo, resgatando o contato homem-Deus, ancorando a esperança e a caridade. É importante advertir que a experiência religiosa, quando travestida de fundamentalismo, nega a si própria e a relação com o divino. É manipulação do divino em benefício próprio. Esse fundamentalismo é privado de mística, de espiritualidade e carregado de narcisismo, ritualismo e moralismo e lê a história a partir do castigo divino e da culpa humana.
Por fim, não podemos desconsiderar a capacidade humana de produção de conhecimento. Por que não utilizarmos dele para um mundo mais igualitário, mais humano e promotor da dignidade e vida humanas? Todo conhecimento é ambivalente, mas fundamentado pelo rigor da atividade científica, pela ética e por uma antropologia que considere o ser humano em sua totalidade, imanência e transcendência, pode gerar grande riqueza ao patrimônio humano, evolutivo e histórico. Nesse sentido, é fundamental que as sociedades invistam nas Ciências para promoverem o bem comum. O discurso odioso às Ciências é ignorante e reducionista e o cientificismo é arrogante e manipulador. A Ciência deve estar a serviço da construção da humanidade em todos os sentidos. E como podemos, como cidadãos comuns, dar nossa contribuição para essa construção de saberes? A partir do pensamento crítico, a começar do combate ao fake news e buscando informação de instituições relevantes.
Esta encruzilhada em que o COVID-19 nos colocou exigirá de todos repensar nosso estilo de vida e fazermos escolhas significativas para um futuro melhor…